Em todos os países que possuem uma BLD desenvolvida este processo é definido pelos governos, quer expedindo normas próprias, quer utilizando normas internacionais desenvolvidas cooperativamente para este fim.
Atualmente a formalização desse processo tem por propósito integrar toda a cadeia de atores que participam das várias fases do ciclo de vida de um sistema complexo: definição de necessidades, concepção, projeto, pesquisa, desenvolvimento, fabricação e integração, testes, utilização, apoio logístico atualização e/ou modernização e desativação.
O que se busca é uma interoperabilidade de toda essa cadeia produtiva em um movimento similar ao que ocorreu nas cadeias de suprimento e com a criação de sistemas de tecnologia de informação (TI) do tipo ERP (Enterprise Resources Planning).
A interoperabilidade pode abranger basicamente quatro níveis dentro de um complexo industrial, como é o caso da BLD:
• Interoperabilidade de dados, referindo-se ao trabalho conjunto de diferentes modelos de dados (hierárquico, relacional, etc) e das diferentes linguagens de consulta, para encontrar e compartilhar informações provenientes de bases heterogêneas que, aliás, podem residir em diferentes máquinas com diferentes sistemas operacionais e diversos sistemas de gestão de bancos de dados.
• Interoperabilidade dos serviços, preocupada com a identificação, composição e funcionalidade conjunta de diversos serviços e aplicações (modelados e desenvolvidos independentemente), resolvendo as diferenças sintáticas e semânticas, bem como as conexões para as diversas bases de dados heterogêneas.
• Interoperabilidade dos processos, destinando-se a fazer vários processos trabalharem de forma conjunta. Geralmente em uma empresa, vários processos são executados em interações (em série ou paralelo). No caso da rede cooperativa, também é necessário estudar a forma de conexão entre processos internos de duas empresas para criar um processo comum.
• Interoperabilidade de negócio, referindo-se ao trabalho de uma forma harmonizada com os níveis da organização e da empresa, apesar de, por exemplo, os diferentes modos de tomada de decisão, métodos de trabalho, legislação, cultura da empresa e abordagens comerciais, etc, de modo que o negócio possa ser desenvolvido e compartilhado entre as empresas.
Essa interoperabilidade no ciclo de vida útil de sistemas técnicos, desde a fase de concepção até a sua desativação final, tem sido o foco principal do desenvolvimento da Engenharia de Sistemas nos últimos anos.
Muitas iniciativas, com intensa participação de governos, empresas e organizações internacionais têm sido desenvolvidas visando o que se convencionou chamar de “Engenharia de Sistemas Baseada em Modelagem”, a qual promove a integração de todos os processos envolvidos no ciclo de vida de um sistema técnico, ou seja, a integração de toda a cadeia produtiva envolvida no ciclo de vida de sistemas técnicos.
A atenção internacional ao problema de Engenharia de Sistemas Complexos, tem resultado na elaboração de normas tratando dos seguintes temas:
• O que fazer? (Interoperabilidade de serviços, processos e negócios)
• Quão bem? (Qualidade dos produtos e processos)
• Com que dados? (Interoperabilidade de dados)
• Como modelar e representar os sistemas técnicos? (Interoperabilidade de dados e modelos).
Para se ter uma idéia do nível de cooperação internacional sobre esse tema, basta examinar a relação abaixo (incompleta) de entidades que estão envolvidas no processo de criação de normas aplicáveis à engenharia de sistemas complexos:
• ISO – International Standardization Organization
• IEC – International Electrotechnical Commission
• ANSI – American National Standards Institute
• INCOSE – International Council for Systems Engineering
• EIA – Electronic Industry Association
• DOD – Department of Defense (USA)
• MOD – Ministry of Defense (UK)
• OMG – Object Modeling Group
• IEEE – Institute of Electrical and Electronic Engineers
Normas como ANSI/EIA 632, ISSO/IEC 15228, ISO 19760 e IEEE/EIA 12207 se referem ao que fazer, prescrevendo o ciclo de vida de sistemas técnicos, quais processos devem ser desenvolvidos e o que deve ser feito em cada fase do ciclo de vida (foco nos processos da Engenharia de Sistemas).
Normas como CMMI e ISO 15504 preocupam-se com o quão bem foi feito, reescrevendo maneiras de avaliar a qualidade com que as instituições envolvidas estão desenvolvendo sistemas técnicos (foco na capacidade e qualidade para executar os processos da Engenharia de Sistemas).
Com relação à identificação dos dados, normas como ISO 13303 prescrevem maneiras de representar dados relativos a entidades e atributos do sistema e do processo de Engenharia de Sistemas, para fins de automação e troca de informações entre programas, instituições e agentes envolvidos no processo (foco em informação).
Finalmente, para a modelagem e representação dos sistemas técnicos, normas como OMG SYSML (System Modeling Language) e DODAF (Department of Defense Archtecture Framework) prescrevem maneiras de representar, através de símbolos e imagens, atributos e características do sistema técnico, abrangendo todas as visões, desde requisitos, passando por funções e arquitetura, até detalhamento de componentes (foco em linguagem).
No Brasil, esses assuntos estão afetos a, pelo menos, três ministérios: Defesa (MD), Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC) e Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC).
Dessa forma, urge que esses três entes da União se articulem para desenvolver um amplo programa, visando a inserir o Brasil nesse movimento, pois essa inserção parece ser essencial para que o país adquira qualidade e competitividade industrial, não só em produtos de defesa, mas também em produtos de alto valor agregado de uma maneira geral, que seja comparável às dos principais países produtores de complexos produtos e sistemas estratégicos e de alto valor agregado.